Fernanda Montenegro: Nelson Rodrigues por ele mesmo
O que pode surgir do diálogo entre o maior autor teatral brasileiro e um grupo de pacientes em reabilitação, mediado pela grande dama do teatro, Fernanda Montenegro? Uma renovação da esperança de todos os presentes. Visivelmente emocionada ao pisar no palco do Teatro SARAH, no dia 17/05, diante de uma casa lotada, a atriz lembrou a última vez em que viu o marido, o falecido ator e diretor, Fernando Torres, em cena. "Há nove anos, aqui ele se despediu desse espaço onde fez sua vida", lembrou.
Fernanda apresentou seu projeto atual, uma leitura dramatizada de crônicas não publicadas reunidas em "Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo", espetáculo baseado em livro organizado pela filha do dramaturgo, Sônia Rodrigues. O texto em primeira pessoa revela o homem por trás da obra.
Na plateia, o casal - Cintia, de 36 anos, internada no SARAH no Programa de Reabilitação Neurológica, e o marido Antônio Carlos, morador da zona rural do Mato Grosso do Sul - captaram a essência da alma do escritor. "Todo dia se aprende que enquanto existe vida, tem esperança. O artista passou tantas dificuldades e soube superar", destaca Antônio Carlos.
Cintia que é professora e adora arte, nunca esteve num teatro. "A arte transforma a gente por dentro e agora, quando voltar para casa, vou poder dizer que vi Fernanda Montenegro ao vivo no palco", completa com muita desenvoltura, apesar do nervosismo declarado antes de dar seu depoimento.
Pacientes como Lendismar Barbosa, 34 anos, também fizeram sua estreia no teatro e se impressionaram com a experiência. "É uma ação maravilhosa porque a gente se socializa com outros pacientes e, ao mesmo tempo, quebra aquela rotina esperada de só ficar na cama. Surpreende demais", diz Ada Guimarães, 29 anos, em tratamento de sarcoma e enfermeira de profissão, designada para entregar o buquê de flores em nome dos pacientes a Fernanda Montenegro, ao final da peça.
Os relatos mostram os benefícios da arte na reabilitação. "Ao ser incluído numa atividade dessas muitas vezes pela primeira vez na vida, a gente percebe o objetivo do tratamento de reabilitação que é voltar à vida normal, retomar o lazer, os passeios, tudo", observa Regina, paciente em avaliação e moradora de Florianópolis (SC).